Sobre Loucos

"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura"

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Perdedor, vencedor



O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede.
Depois foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o perdedor
apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:
— Também, com essa raquete...
Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor
também sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda
sorrindo:
— Também, com esses tênis...
O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor
examinou o vencedor e comentou:
— Também, com esse físico...
O vencedor perdeu a paciência.
— Olha aqui — disse. — Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse
essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete
igual à minha e tênis melhores do que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que
ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude
de vencedor. Prefere atribuir sua derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo
menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também
poderia ser um vencedor, apesar dessa barriga.
O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:
— Também, com essa linha de raciocínio...

                    Livro: Diálogos impossíveis, Luiz Fernando Verissimo

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