O
perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se
as mãos por cima da rede.
Depois
foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o
perdedor
apontou
para a raquete do outro e comentou, sorrindo:
—
Também, com essa raquete...
Era
uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O
vencedor
também
sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou,
ainda
sorrindo:
—
Também, com esses tênis...
O
vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O
perdedor
examinou
o vencedor e comentou:
—
Também, com esse físico...
O
vencedor perdeu a paciência.
—
Olha aqui — disse. — Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse.
Se perdesse
essa
barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma
raquete
igual
à minha e tênis melhores do que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é
equipamento que
ganha
jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem
uma atitude
de
vencedor. Prefere atribuir sua derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu
físico, a tudo
menos
a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você
também
poderia
ser um vencedor, apesar dessa barriga.
O
perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:
— Também, com essa
linha de raciocínio...
Livro: Diálogos impossíveis, Luiz Fernando Verissimo
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